viciada em cinema, cinema esquisito, como tratam os menos aplicados, quando se referem à minha preferência cinéfila, dificilmente uma escolha que eu faça, recai sobre aqueles que acham duro matar, ou que levam consigo alguma carga explosiva. no entanto, réu confesso, o cinema catastrófico de hollywood me atrai sobremaneira e o indicador dessa preferência é o daylight (cutuca), um decentíssimo rob cohen de 1996 que, longe de carregar um herói indigesto, super fortão e sabidão, tem a delicadeza de não ultrajar a inteligência de quem assiste. em daylight, nem tudo acaba bem e o kit latura vivido pelo sylvester stallone, não passa de um operário normalzinho e anti hollywoodiano.
(cutuca que lá vem o trailler)
pois bem! minha preferência pelo fantástico mundo do cinema catástrofe faz apenas essa concessão, encerra-se aí, mas abre brechas para outras, também saudáveis, mudanças temporárias de estilo.
duro de matar 4 é uma delas.
a receita é a seguinte: não devemos desprezar uma diversão cinematográfica absolutamente arrebatadora e envolvente, como a que nos oferece o cinema de ação e aventura. para que ela seja perfeita, basta forçar a barra para que seja estrelada por um ator ... lindo! tesão! bonito! e gostosão! ... assim poderemos enfrentar todas contrariedades, antes ou depois da sessão de cinema, como por exemplo, senado corrupto, trombada de avião, telemarketing, salário hilário, fila de banco, buraco recidivo em escavações para construção de metrô, etc, etc, etc, ...
como se fosse a primeira vez. como se não fosse verdade.
(cutuca, de leve, pra não abrir um buraco na tela)
Contra acidentes, operário usa imagem de santa em túneis do metrô
O ar chega por um grande tubo prateado. O concreto, por um pequeno tubo branco. Os homens, pelo elevador-gaiola. A 44 metros de ruas e avenidas de São Paulo (altura de um prédio de 14 andares), convivem no subterrâneo 75 toneleiros, como o homem que acredita ter sido salvo de três soterramentos por santa Bárbara ou o ex-operário do Iraque que teme a loira fantasma. Eles cavam parte do buraco do metrô que ligará as estações Imigrantes e Alto do Ipiranga, na zona sul de São Paulo.Trabalham dia e noite em uma das frentes de trabalho e não estão sozinhos. Cerca de 4.000 homens constróem diariamente, no subsolo da cidade, os buracos ou as estações dos trens. Estão em 33 frentes divididas entre a linha 2-verde (Vila Madalena-Vila Prudente) e a 4-amarela (Vila Sônia-Luz). No fim do mês, verão duas estações começarem a funcionar: Chácara Klabin e Imigrantes.
João Wainer/Folha Imagem
Veja imagens das obras das novas estações do Metrô
Acostumados à escuridão em plena luz do meio-dia, os toneleiros primeiro enfrentam a lama, companheira constante na fase inicial da obra. Buraco cavado em forma de um círculo, é hora de passar concreto em toda a volta e aí só se vê poeira. Parece que todos trabalham em meio às brumas, tamanha é a quantidade de pó. Isso sem falar no barulho das máquinas e no calor do túnel.
Paramentados de capacete, óculos, protetores auriculares, máscara, luvas e botas, garantem não ter medo de cavar a terra. De vez em quando, acidentes acontecem. No ano passado, foram dez, sem gravidade. Mas já foi muito pior. Há 26 anos fazendo buracos do metrô, o ex-garimpeiro de Carajás Élcio da Silva, 45, já perdeu seis colegas de trabalho. Ele mesmo ficou soterrado três vezes. Foi retirado pelos colegas, mas não se esquece do gosto da terra. "Estou salvo graças a santa Bárbara.
"Padroeira dos mineradores, em cada frente de trabalho onde um túnel começa a ser cavado, há uma imagem da santa. Ela é a primeira a ganhar um lugar debaixo da terra, antes mesmo de as máquinas começarem a operar.Santa Bárbara é a protetora dos que trabalham no subsolo porque foi em uma caverna que pediu ajuda à Deus para que seu pai entendesse sua conversão ao cristianismo. "Ela é poderosa. Todo dia, antes de ir embora, paro para agradecê-la", conta Silva.Ela só não protege dos fantasmas. Reza a lenda que, à noite, uma loira caminha pelos túneis. Clodomiro Vale, 51, operador de carregadeira na estação Alto do Ipiranga, nunca viu, mas, desde que começou a trabalhar para o metrô, há cinco meses, ouve a história. "Fiquei assustado mesmo no primeiro dia em que cheguei aqui. Vi o buraco que a gente ia ter de descer, toda aquela terra e só fiquei porque tinha contas a pagar. Agora, me sinto em casa.
"Vale diz que só troca o emprego se puder voltar para o Iraque, onde trabalhou na construção de uma ferrovia. "De vez em quando aparecia alguém morto, mas o trabalho era ao ar livre. Aqui, a gente fica igual a tatu e ainda tem essa história de fantasma. Espero que nunca encontre um.
"Entre os toneleiros, nenhuma mulher de carne e osso. Conta outra lenda que mulher no buraco do metrô dá azar. Nos Estados Unidos, quando os primeiros túneis começaram a ser cavados, o número de acidentes aumentava no momento em que as mulheres chegavam levando o almoço.
Preocupados, os maridos proibiram a entrada delas, de freiras e de padres (por usarem saias) e, até hoje, toneleiro não gosta muito de ver mulher lá embaixo. Mas sente falta. "Se tivesse mulher, o lugar ficaria mais bonito", afirma Francisco de Assis, 47, que começou a cavar túneis em 1990. "Isto aqui é um clube do bolinha.
"Como em qualquer clube do bolinha que se preze, o assunto que mais se ouve debaixo da terra é futebol. Em ano de Copa do Mundo, eles já se conformaram em acompanhar os jogos pelo que chamam de rádio-peão, já que nada funciona por lá. O esquema está montado: assim que sair o gol, um funcionário de algum caminhão do lado de fora avisa ao ascensorista do elevador-gaiola, que desce e conta para os toneleiros.
A comemoração é permitida, mas eles não podem atrasar o trabalho (já que é preciso cavar de 1,60 metro a 2,40 metros de túnel todos os dias) nem se desconcentrar. A atenção é necessária para evitar que muita terra caia de uma vez e para perceber se algo estranho aparece no caminho. De vez em quando, os toneleiros encontram pedaços de prédios antigos, fossas usadas como banheiros há centenas de anos e até ossadas humanas. Tudo é encaminhado para o setor de arqueologia.
Quando um operador de escavadeira sente que não recolheu apenas terra, pára o trabalho e chama um toneleiro. Na maioria das vezes, o que se encontra são rochas. As escavadeiras não conseguem fazer o túnel por inteiro e é por isso que os toneleiros são necessários. Eles cavam manualmente a borda dos buracos. Luciano Xavier dos Santos, 42, no metrô há 17, é um deles.Com um martelo rompedor em punho aparelho que pesa 12 quilos quando está ligado, ele prepara todo o contorno dos túneis para que possam ser concretados. Luciano Santos passa o dia suando e tremendo por causa da ferramenta. "Quando o dia acaba, estou quebrado. A gente faz tanta força que quem é novo não consegue trabalhar no dia seguinte por causa da dor muscular", conta. "Já vi até toneleiro que precisou ficar internado, mas não troco isto daqui por nada. Nasci para trabalhar debaixo da terra.
"Tatuzão"
Os toneleiros terão bem menos trabalho quando os túneis da linha 4-amarela começarem a ser cavados. Lá, grande parte do serviço será feita pelo "tatuzão", máquina capaz de fazer até dez metros de buraco já concretado por dia, que chega ao Brasil em julho.
A partir dessa data, os operários trabalharão apenas no trecho da Vila Sônia à Faria Lima. Três pontos causarão interdições viárias.
Na linha 2-verde, toneleiros cavarão até o Alto do Ipiranga, estação que será entregue até o fim do ano.
A expansão dessa linha (3,4 km) custa R$ 460 milhões; a obra completa da linha 4-amarela (12,8 km), US$ 1,26 bilhão em valores atuais, R$ 2,65 bilhões.
(texto retirado da folha online de 19/03/2006 de daniela tófoli)
Nenhum comentário:
Postar um comentário